sexta-feira, 15 de abril de 2011

Non related: Descobri que só escrevo "bem" quando me sinto em baixo. Tristeza.

Um dia cinzento. O sol tentava quebrar a escuridão imensa trazida por nuvens espessas e confusas mas, contudo, continuava sem algum sucesso. As ruas, calcetadas a preto e branco, lembravam velhas obras-primas cinematográficas onde sem qualquer diálogo óbvio, as personagens nos prendiam segundo após segundo ao pequeno ecrã, ainda com uma antena gigante, sem prever o futuro risonho do comércio actual.

Em segundos, silenciosos passos deixaram de ser completamente silenciosos. Os sons de outrora em que a vingança se patenteava por um aproximar sorrateiro até às costas do inimigo faziam sentir-se nesse preciso instante. Alguns segundos depois, as sapatilhas; as calças de ganga; a t-shirt com a capa de promoção de um filme presenteado nos Óscares já há vários anos; tornaram-se nítidos, ainda que a luz fosse pouca.

O ar cansado, as rugas de expressão, o cabelo já grisalho. Tudo indicava um ser humano, possivelmente do sexo masculino, com histórias para contar e, algumas, para esconder. Os olhos verdes procuravam no vazio a esperança de dias passados, enquanto manifestava o que poderia ser interpretado como impaciência, ao estalar os dedos das mãos. Ou, quem sabe, aborrecimento. A busca revelava-se infrutífera, uma vez que nada parecia vir ao seu encontro.

“Um dia, não sei, talvez… Estou exausto. Dói-me tudo o que poderia algum dia doer. Magoa-me a alma, magoa-se o coração. Sinto-me, dia após dia, a morrer cada vez mais, se isso for possível. Dou asas à imaginação, procuro entre o mais variado e o mais óbvio. Fico, simplesmente, pelo impossível.”.

Pensamentos confusos, magoados, infrutíferos também. O nosso mundo funciona assim, com sofrimento mútuo. Sofremos pelo mesmo motivo mas tudo continua a não resultar. Ou é porque somos demasiado gordos, porque somos demasiados esqueléticos… porque temos rugas, cabelo branco, falta ou excesso de centímetros, demasiado à-vontade, demasiada auto-estima, demasiada timidez… Tudo falta. Mas, no entanto, nada falta.

Voltamos à grande ambiguidade que os conceitos de paixão, amor ou amizade revelam em cada uma das relações que temos, conhecemos ou ignoramos. Será o amor uma relação de verdadeiro conhecimento, encanto e sedução? Ou será esse sentimento tão procurado mas quase sempre amaldiçoado o passo final da amizade das amizades? E, se assim é, será a amizade apenas um estágio que pode evoluir para algo final? Onde se situa a paixão? No início destes conceitos ou em todos eles?

Paixão, interesse motivado por algo prezável à vista. Engraçado conceito esse que se compara ao supostamente fantástico amor. O amor sofre com a paixão e, na maioria das vezes, a paixão cai aos pés do amor. Mas, a verdadeira questão não será quando estamos apaixonados. Esse é o sentimento mais fácil de compreender e admitir. O momento em que sabemos que amamos alguém, esse sim é um momento de brilhantismo puro e de curioso lamento lacrimal pela sua não correspondência.

Sucintamente, as coisas são como são: imperfeitas. Sonhadores? Somos nós que pensamos que podemos modificá-las ou que elas se poderão modificar por si próprias. Sonhamos que um dia alguém abra os olhos e se aperceba que tudo faríamos para que o nosso pequeno mundo se tornasse perfeito. Sonhadores são aqueles, como nós, que pensam que um dia se aperceberão do que já têm e não precisarão de mais nada.

Sonhadores? Somos nós, apaixonados. Porque a paixão mata, eventualmente.

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